sexta-feira, 11 de abril de 2014

Na sibéria não tem nada disso. Ou: crônica do off-line.

Um belo dia meu celular começou a dar problemas.
O celular que eu tinha comprado nem 2 meses e que eu cuidava feito filho. Porque né, morando no Rio esses últimos tempos, sempre rolava o medo de ser assaltada em qualquer canto: esquina de casa, esperando o ônibus, dentro do ônibus, dentro do taxi e por aí vai. Cenas cotidianas da vida carioca. 

Do celular dar problema até o dia de hoje que escrevo, uma sexta-feira atípica (e logo vocês entenderão o porque), passaram-se 4 longos dias. 
Nesses 4 longos dias eu mesma me ensinei muita coisa e pude voltar em dos tempos muito deliciosos da minha adolescência: a era antes dos smartphones. Quem lembra? Quem esqueceu? Como vivíamos nesses tempos primórdios? Essas e outras curiosidades hoje, no Globo Repórter.

Pois bem.

Tudo começou dentro do metrô voltando da assistência técnica e indo para o trabalho. Um percurso que no meu antigo emprego, durava menos de 10 minutos pois são apenas 2 estações. Minha mão procurava a minha bolsa que procurava o celular. Tirei da bolsa naquele impulso que faço diariamente durante meu trajeto casa-trabalho-trabalho-casa. O que achei foi o meu celular "reserva" da Nokia, com jogo da cobrinha e camera 3.2 pixels. Apertei e nada aconteceu.
Cara de decepção e aguardando os 10 míseros minutos em silêncio profundo comigo mesma. E um pequeno tédio.

No trabalho, costumo colocar o Iphone ao meu lado. Volta e meio, aperto o Menu para poder ver se recebi as mensagens cotidianas: whatsapp, mensagem da mamãe (que tem whats mas prefere sms, respeitemos), email pessoal, etc.
Nada.

A luz acendeu e apagou. Me senti pelada, sem uma extensão de mim. Isso porque estava no trabalho e poderia verificar tudo isso apertando o Google e dando um refresh no Facebook. Mas não é a mesma coisa (vocês sabem!). 

Na volta para casa mais um momento de solidão. Ao invés de sacar os fones de ouvido e ficar imersa em minha música, estava eu, observando os passageiros do pequeno ônibus 580 rumo ao Cosme Velho. Ônibus pequeno, pessoas em pé. Todas em seus smartphones. Teclando, luzes acendendo, jogando Cand Crush (que ano é hoje?) ou contando sua rotina para uma amiga do outro lado da linha.
E eu lá. Pequena nessa multidão conectada, aproveitando para refletir na vida.
Trânsito. Até o próprio motorista não aguenta e saca seu Samsung e coloca uma musiquinha de fundo. 


Parto a pé em direção para casa. O trajeto que costumava fazer de cabeça baixa e trombando em coisas e pessoas pela rua, fiz de cabeça erguida. Ao meu redor, meus antigos parceiros faziam o mesmo que eu há dias atrás: nenhum foco para frente, apenas para baixo. Ergui a cabeça como em um sinal: estou aqui! Eu existo! E segui para meu apartamento com calma e tranquilidade. Tão distraída que pude comer um churrso na barraquinha da esquina da General Glicério, que sempre esteve ali mas se mantém esquecida ora é minha pressa a chegar em casa.

Ainda estou sem meu celular. Volta e meio bate solidão e bate tédio. Mas também me fez compreender o quanto somos uma geração estranha. Saímos para jantar e ficamos no celular conversando com terceiros que não estão no recinto. Rimos dos vídeos que mostramos aos nossos amigos no Youtube: não seria muito melhor contar uma história engraçada, dando aquela invetadinha de leve? Mas ninguém mais tem paciência para escutar, apenas para digitar.

Não tiro o meu da reta. Sou completamente freak em relação a essa era do mobile. Mas me senti triste.

Triste e vazia de compreender que as vezes dou mais valor a esse gadget do que a momentos e pessoas tão especiais. Vou aprendendo que a melhor fotografia é o olhar, que a inveja sempre aparece com nossas mil caras e bocas no Instagram, que não conseguir olhar o email do trabalho deitada na cama é muito bom, que sem o celular no dia-dia consigo adiantar mil coisas que não faria se "deixa eu só responder essa mensagem rapidinho!". 


Ufa. Aprendi tudo o que falei mas cá estou eu, saindo do trabalho e torcendo para que o ônibus em direção a Copa chegue rapidamente para que eu não morra de tédio. Vai entender essa vida moderna.



2 comentários:

  1. Sei bem o que vc tá falando! Passei uma semana assim e estava adorando! Mas não adianta, volta o celular e volta o vicio igualzinho. E não adianta promessa nenhuma de dessa vez vai ser diferente.

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  2. Amiga, essa é uma triste realidade.... =(

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