segunda-feira, 2 de junho de 2014

But first, let's take a selfie. With Mueck.

But first, let’s make a self... with Mueck.

Era mais um domingo despretensioso. Namorado viajando, chuva, frio. Depois de ver algumas beldades em campo num sábado a tarde com as amiguinhas, o que a domingueira poderia me reservar?
Amigos do trabalho + Joe and Leo’s + MAM. Iuhul! #asaudadeagradece

Pausa: Joe And Leo’s é um restaurante engraçadinho né, gente. Minha vida toda, ou melhor, minha adolescência, ele sempre foi o restaurante opção 2. Opção 2 quando o Outback estava cheio. Quando não tinha pager e nem lugar no bar para sentar. O que eu fazia? Dava a volta no corredor, passava pela Tok Stok e ia direto para ele. Me acalmava. Era uma segunda opção, válida, segura. Sempre estava vazio. Sempre tinha um hamburger e batatas sorrisos me esperando sem fila.

Voltando.

Depois do almoço, por volta de umas 15h, partimos em direção ao MAM para ver a tal exposição consagrada do Ron Mueck. Eu não sou tão fã de exposições, na real, só vou a qual me interessa e não nessa que está na última moda da semana de artes de Berlim. Pois bem, fui.
Compramos ingresso na internet porque, né, quem é a alma viva que ainda se garante em comprar na bilheteria?
Bom, depois desse domingo fatídico, eu entendi que MILHARES. Não, não era um bolo de 100 pessoas em uma fila caracol que dava voltas e voltas no pátio do MAM. Eram milhares. Parecia o Boi Tolo em época de Carnaval. Mas claro, sem o glamour de confete-serpentina-fantasia-cerveja-porpurina. 


Enfim, como tivemos essa ideia brilhante e inédita de comprar pela internet não enfrentamos nada. Nem uma alma viva na nossa frente. Só aquela boa e organizada atenção dos serviços no Rio de Janeiro. Uma pessoa muito simpática pegou nosso bilhete e ras-gou. Cadê catraca eletrônica, gente? Cadê museu padrão Fifa? Não tem.
Fazemos no old style.


Entramos.  Fila caracol, passos lentos, crianças correndo e gritando na escada. Meu medo singelo por esses pequenos seres porque os pais deviam estar mexendo no celular jogando Perguntados.

Eu nunca vi um museu tão cheio na minha vida. Ok que como disse acima, não sou a maior frequentadora dos mesmos. Ok que o ingresso é R$7,00 e acho isso bem legal porque aproxima a cultura de uma forma bastante generalizada. Ok que era domingo chuvoso e não tava dando praia. Mas mesmo assim a quantidade de pessoas pelo MAM me chocou. E antes tivesse sido positivamente.
Eu não gosto de empurra-empurra, de calor, de ter que ficar pedindo “licença” e a pessoa olhar pra sua cara e fingir que não te ouviu. Uma pessoa de 40 anos não pode ser considerada senhora e debilitada. A não ser que seja surda que dói. Mas não devia ser já que tirava mil fotos e falava no telefone e falava com a colega do lado: “Vamos lá tirar uma foto com a galinha!”.


E lá fui eu ver a tal da a galinha também. Uma galinha bonita, bem feita, com penugens.

~ O trabalho do cara realmente é foda, de pirar.
É de uma leveza e sinceridade. São situações da nossa vida, que podiam acontecer comigo, com você, com o cara da esquina. E são congeladas a olho nu. Assim de perto, tão real, que parece que a pessoa vai pular em cima de você e gritar: “Me tira dessa solidão!”.  ~


Voltando a galinha.

Uma galinha. Uma roda de pessoas em volta. Muitas. Muitas pessoas agachadas, se espremendo, passando por cima do cordão de isolamento. Sim, a galinha tinha um cordão de isolamento. Tipo um bueiro que acabara de explodir. Cuidado!
Cuidado!


1, 2, 3 e muitos flashs. Mesmo a menina educada pedindo para que isso não fosse feito. Mesmo com um cartaz na parede falando o mesmo. Onshi. Vergonha alheia.
Pessoas agachadas. Fazendo o que?
SELFIE COM A GALINHA. SELFIE. Com dedo joinha.


Ok. Pode ser coisa de gente estranha que gosta desse tipo de lembrança para posteridade. Ou não.
Vamos prosseguir pela exposição.


Ando mais um pouco. O rosto de Ron Mueck. 

Um alguém em off para os amigos: “Nossa, mas parece com o cara do filme”. E o filme ao lado passava um dia na vida de quem? Do Mueck.
O amigo nem se deu o trabalho de ler a legenda da obra. O que ele queria? Tirar uma selfie com Mueckão. Tipo: “Eu e meu amigo Ron-Ron dentro do MAM! #barba #dormindo #acordamueck “
Tipo, isso é sério?

Assim, eu não falo nada. Adoro uma foto. Registro comida, Game of Thrones, uma compra nova, flor na rua, amigos do trabalho, namorado dormindo. Sou sem limites. Mas descobri gente que é pior. Não sei se pior, mas é completamente insano essa relação prazer-aparecer.
Foi pro museu. Pagou entrada. Ficou na fila. Se acotovelou. Pra tirar fotos.
Não foi para ver, conversar, discutir, se informar, absorver cultura. Foi para tirar fotos e mostrar que foi.

Muito da teoria que estamos vivendo o que o Instagram retrata e não a vida real. Sem poses. Sem filtro. Sem seguidores.
Preocupante. Porque eu também devo ser assim.  (pelo menos não tirei foto com a galinha)

Isso ligou meu alerta. Até quando vamos chegar num restaurante e fotografar o prato? Vamos viajar e fotografar o mar ao invés de entrar? Fotografar um beijo ao invés de tacar um beijão de língua que não tem pudores?
Sei lá.

Só sei que fiquei meio desnorteada. Mas fui lá. Adorei. Curti.
Só não entrei na onda da selfie, porque né. Não ia pegar bem me jogar no barquinho abandonado e tirar uma foto com o vovô nu. Ia pegar mal. Baixar o número de followers. Talvez até ser considerado conteúdo proibido do Instagram.


Sai de lá pensando e sem minha selfie com Mueckão. #chatiada

Foto de uma desconhecida mas podia ser eu, você, seu vizinho... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário