sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A vida sem freio

...me leva, me arrasta, me cega
no momento em que eu queria ver.

Acordo de manhã e a rotina é a mesma. Abrir o olho, desligar o despertador, colocar meus óculos, ver o celular, dar bom dia ao meu amor, escovar os dentes, tomar banho, colocar a roupa, tomar café, fazer carinho no meu cachorro, sair de casa atrasada (porque fiquei vendo o celular demais), bater o portão.

Chega no trabalho, verifica emails, faz follow up, planeja próximas ações, atualiza apresentações, aumenta logo do cliente. 

Pausa para o almoço. No trabalho. Esquenta, come, conversa. Lê um livro, uma revista, se distrai.

Fim do dia. Desejo de libertação, férias durante 3 dias, acordar tarde, sentir preguiça e poder continuar deitada. Dar um pulo na praia, mergulhar no mar, tomar um matte gelado. Subir o morro e comer uma boa feijoada.
Domingo dia mundial do fazer nada com prazer e eu faço. 


Somos assim. Pré-determinadas a uma rotina intensa. De vai e volta, idas e vindas. De acordar e dormir. Desligar e ligar. Acender e apagar.

Onde está o sonho? 


Aquela faísca pequena que te acorda de madrugada com um mantra: "vai lá e faz!" e não te deixa mais dormir.
Eu tinha muito a minha quando era do colégio e sonhava em ser uma jornalista famosa e renomada.

Hoje em dia só desejo que meu dia seja legal, que tenha trabalhos interessantes e que a sexta chegue ensolarada.


Por muito tempo pensei que isso fosse triste. Fosse aquela premissa clichê: "quando se faz o que se ama, a segunda-feira se torna muito mais feliz". Que mentira! Você prefere continuar esparramada na areia ou prefere enfrentar um trânsito caótico espremida em um ônibus lotado e sem ar?
Vai por mim que a opção 1 é sempre mais prazerosa.
Mas isso não descarta a possibilidade da número 2 ser menor ridícula e entristecida.

Não tomo mais meus sonhos em falso e meus atos falhos como um aviso do destino: "se joga e faça o que te faz feliz!".

Eu já faço isso. Poder acordar ao lado de quem eu amo, poder estar cercada de amigos, poder ter o que fazer de segunda a sexta no horário comercial, ter me formado com louvor, poder caminhar com as minhas próprias pernas - mesmo que isso não signifique sair de casa ou uma viagem internacional por mês.

Respiro aliviada. Mesmo a monotonia de todo dia, o cansaço e a vontade de mandar um foda-se bem grande pro mundo estimula a gente, né?

Pelo menos estimula o meu lado de respirar fundo e enfrentar a vida que nem sempre é fácil.

Nem de momentos alegres vivemos o tempo todo. O príncipe encantado também anda de metrô, se é que ele existiu algum dia. O emprego dos seus sonhos você é quem faz. Dinheiro não dá em árvore. Ser filha única não é um problema (e nem sinônimo de pessoas mimadas). Tijuca é do lado de Laranjeiras. A praia mais gostosa é aquela que ninguém sabe e não aquele point do fim de semana. Ser chefe também é duro.
E ser adulto é mais ainda.

Viva essa vida louca, breve e tão vivida. Afinal, como iríamos reconhecer os momentos do destino caso a vida não tivesse essa rotina?!


E hoje é sexta, ainda. Um viva maior ainda! :)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Do amor

Nos encontramos despretensiomente em uma mesa de bar. É claro que ele não vai lembrar disso. E ainda vai dizer que anos antes, eu que dei em cima dele em algumas férias do verão escolar carioca.

Pois é, o tempo passa. A primeira vez que nos esbarramos, conta ele, deveríamos ter 16 anos. Hoje estamos mais perto dos 30. Graças a Deus que foi assim.

Tem gente que a gente torce pra encontrar e tem gente que a gente simplesmente encontra. Esses encontros são coisas de gente. De alma, de conexão, de outros destinos. Eles transpassam o tempo e não dão importância quantos anos antes vocês estiveram separados. Acontece quando tem que acontecer.
E foi da assim.

Da mesa de bar para a festa. E mais festas. E até um pagode lixo que tinha perto da minha casa. Mentira, não era lixo não. Mas pra ele era porque ele nunca foi fã de pagode. Hoje em é. Ele diz que não mas eu sei que ele tem uma playlista da Turma do Pagode no celular. Coisa minha isso, me sinto até orgulhosa.

Da festa para o cinema, para a piscina do prédio dele, para a praia, para as viagens. Para mais festas. E olha que hoje em dia, 4 anos depois, ele torce para o dia que vou chegar e falar que estou cansada de sair pra dançar. Porque ele não gosta ou então finge que não, nunca entendi.

Naquela euforia de carnaval carioca, onde as pessoas vestem fantasias e imaginam ser o que não são, nos encontramos por fim. Naquela 3ª feira de Carnaval ou 4ª feira de cinzas, não me lembro, selamos o amor. Porque comigo é 8 ou é 80. Nunca tive a característica de ser uma pessoa em cima do muro. De “tanto faz” ou “tanto fez”. Tenho dramas fortes e amores também. Ainda bem que ele topou ser esse último.

Agora já se passaram quase 4 anos. Desse carnaval. Dessa minha nova descoberta que amores perfeitos são completamente imperfeitos. Que o príncipe não existe. Ou então, na forma dele, veio apenas ele. Com toda sua bagagem e suas imperfeições que o fazem ser perfeitos, como naquela mesa de bar há tempos atrás.

Parecia que eu sabia. Que todos os amores de antes me levariam e ele. Que todos os erros e as tristezas, seriam apenas uma ponte a ti.
E que bom que escolhemos o caminho mais sinuoso. Assim aprendemos que ninguém caminha nessa vida sozinho.

Obrigada por me dar a mão sempre. Mesmo que seja para entrar no mar quando a água está fria ou para me equilibrar em cima da bicicleta que me dá tanto medo. Ah, se todos os medos fossem esses, né?

Esse é o maior presente que você poderia me dar.

<3 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Um dia no 435 - Gávea/PUC

Sento no 435 todos os dias, né.
Depois da trajetória casa-metrô-onibus direto para o trabalho. 
Dia desses, estava chovendo. Já com os nervos a flor da pele, porque me sinto uma lesada de guarda-chuva (com hífen ou não?) pelas ruas do Rio.
Por Botafogo.
Na Voluntários.
Onde as calçadas não têm vez.
Já ia para a décima reclamação do dia (em pensamento), quando entram duas meninas *adolescentes* no ônibus. Digo *adolescentes* mas deviam ter seus 19 anos e eram bem maiores e mais espertas que eu. O que posso fazer? 26 anos na cara mas alma de 15. O tempo tem dessas coisas.
Elas estavam rindo, falando alto, mostrando o Iphone uma para a outra.
O 435 é um ônibibus que vai para a PUC, né. Logo me dei conta que as duas deviam estar indo para a faculdade em uma manhã chuvosa de terça-feira. 
E não tinham nada a reclamar. Nada a perder.
Observei de longe e relembrei os anos que saltava todos os dias às 8 da manhã em uma 1o de Março lotada, em direção a minha faculdade.
Era um misto de alegria e nervosismo. Misto de ansiedade que fazia qualquer aula até as 22h valer a pena.
E olha que não estamos falando do glamour da Gávea, do pilotis lotado ou do tão famoso Seu Pires. Estamos falando do Centro da Cidade, mendigos, rua suja e esgoto brotando no seu pé de graça.

Mas tudo bem.
Até subir 10 lances de escada quando o elevador não estava funcionando, se tornava fun. Sempre encontrávamos amigos, falávamos do fim de semana ou então nos tornávamos estranhos e calados durante o percurso. E olha quem estudou na Espm-RJ sabe do que eu tô falando, o elevador estava sempre lotado e com filas gigantes.
Sabe, nem me importava de estudar até 23h. Sempre tinha um mongol que lançava a Domino's no meio da aula e a sala toda saia para fazer uma boquinha. 
A aula de finanças se transformava em uma batalha comigo mesma. Me esforçando para ser melhor a cada dia (e aprender a mexer no excel porque né, para uma pessoa que sempre correu de números...) e para a professora me amar sempre e me dar aquele meio ponto que sempre deixava a desejar (e dava certo!). 
Até o trabalho de final de curso foi delicioso de fazer. Juro!
Faculdade tem dessas coisas estranhas. Você sai de Laranjeiras rumo a Niterói só para um simples churrasco de turma.
Bebe às 10h num pé sujo só porque o professor faltou.

Tem dessas sensações meio loucas e meio novas. Descobertas.
Daí entendi o brilho no olhar daquelas amigas. Entendi a animação, a vivacidade e a euforia.
Tão novas indo descobrir uma vida que passa em 4 anos tão rápidos.
Se eu soubesse como passou tão depressa contava para elas, para elas nunca reclamarem do 435 lotado, da chuva, do frio, do trabalho de todo dia.
Deu até vontade de ser uma dessas pessoas se pega rindo no meio do caos, lembrando de um passado não tão distante que era tão bom. 
Me peguei até com saudades.
Saudade boa, sabe? Dessas que não dói. Que faz lembrar que é por essas e outras da vida que a gente se pega sim rindo dentro do 435 lotado.
Agora já estou chegando no trabalho. E fico aliviada de ver que tudo valeu a pena. Até esse trânsito insuportável de Botafogo. Valeu São Clemente!