terça-feira, 2 de setembro de 2014

Um dia no 435 - Gávea/PUC

Sento no 435 todos os dias, né.
Depois da trajetória casa-metrô-onibus direto para o trabalho. 
Dia desses, estava chovendo. Já com os nervos a flor da pele, porque me sinto uma lesada de guarda-chuva (com hífen ou não?) pelas ruas do Rio.
Por Botafogo.
Na Voluntários.
Onde as calçadas não têm vez.
Já ia para a décima reclamação do dia (em pensamento), quando entram duas meninas *adolescentes* no ônibus. Digo *adolescentes* mas deviam ter seus 19 anos e eram bem maiores e mais espertas que eu. O que posso fazer? 26 anos na cara mas alma de 15. O tempo tem dessas coisas.
Elas estavam rindo, falando alto, mostrando o Iphone uma para a outra.
O 435 é um ônibibus que vai para a PUC, né. Logo me dei conta que as duas deviam estar indo para a faculdade em uma manhã chuvosa de terça-feira. 
E não tinham nada a reclamar. Nada a perder.
Observei de longe e relembrei os anos que saltava todos os dias às 8 da manhã em uma 1o de Março lotada, em direção a minha faculdade.
Era um misto de alegria e nervosismo. Misto de ansiedade que fazia qualquer aula até as 22h valer a pena.
E olha que não estamos falando do glamour da Gávea, do pilotis lotado ou do tão famoso Seu Pires. Estamos falando do Centro da Cidade, mendigos, rua suja e esgoto brotando no seu pé de graça.

Mas tudo bem.
Até subir 10 lances de escada quando o elevador não estava funcionando, se tornava fun. Sempre encontrávamos amigos, falávamos do fim de semana ou então nos tornávamos estranhos e calados durante o percurso. E olha quem estudou na Espm-RJ sabe do que eu tô falando, o elevador estava sempre lotado e com filas gigantes.
Sabe, nem me importava de estudar até 23h. Sempre tinha um mongol que lançava a Domino's no meio da aula e a sala toda saia para fazer uma boquinha. 
A aula de finanças se transformava em uma batalha comigo mesma. Me esforçando para ser melhor a cada dia (e aprender a mexer no excel porque né, para uma pessoa que sempre correu de números...) e para a professora me amar sempre e me dar aquele meio ponto que sempre deixava a desejar (e dava certo!). 
Até o trabalho de final de curso foi delicioso de fazer. Juro!
Faculdade tem dessas coisas estranhas. Você sai de Laranjeiras rumo a Niterói só para um simples churrasco de turma.
Bebe às 10h num pé sujo só porque o professor faltou.

Tem dessas sensações meio loucas e meio novas. Descobertas.
Daí entendi o brilho no olhar daquelas amigas. Entendi a animação, a vivacidade e a euforia.
Tão novas indo descobrir uma vida que passa em 4 anos tão rápidos.
Se eu soubesse como passou tão depressa contava para elas, para elas nunca reclamarem do 435 lotado, da chuva, do frio, do trabalho de todo dia.
Deu até vontade de ser uma dessas pessoas se pega rindo no meio do caos, lembrando de um passado não tão distante que era tão bom. 
Me peguei até com saudades.
Saudade boa, sabe? Dessas que não dói. Que faz lembrar que é por essas e outras da vida que a gente se pega sim rindo dentro do 435 lotado.
Agora já estou chegando no trabalho. E fico aliviada de ver que tudo valeu a pena. Até esse trânsito insuportável de Botafogo. Valeu São Clemente!



2 comentários:

  1. Amei, bibs!! Fui umas duas vezes na Puc desde que me formei (e olha que foi no final de 2013!) e mesmo assim sinto uma saudaaade! Mas é exatamente isso, uma saudade boa e que nos faz sorrir no meio da rua, do ônibus.. :))

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  2. Bibi, seu texto me remeteu a uma época muito feliz! Foram tantas descobertas e pessoas incríveis que a faculdade me trouxe! Tenho vontade de dizer a cada estudante que vejo na rua: "aproveita, se joga! passa muuuito rápido!"

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