quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não cabe mais em mim

Não cabe mais em mim o primeiro dia que te vi. Estava cheio, era um dia de bar lotado, todos com a camisa do Flamengo atentos na televisão e eu chegando de roupa do trabalho. "Quem é aquele menino de cabeça raspada, camisa do Flamengo?". Como eu iria saber, metade do bar (por sorte) era flamenguista. Por sorte também ou destino, nós dois também.

Não cabe mais em mim nosso primeiro beijo. Não foi aquele beijo de conto de fadas, que a gente imagina quando tem 7 anos (ou 27, vai saber). Tímido, te puxei pra mim como se o ar fosse acabar naquele show. Continuei te puxando pra perto durante todos esses anos, acho eu.

Não cabe mais em mim o primeiro "eu te amo". E logo depois o: "eu também". Como sua timidez é aparente, quem soltou essas palavras fui eu mesma. Quem mais seria? A pessoa que mais gosta de falar no planeta, com os bichos, as paredes, no banho, com o porteiro ou o trocador. Com você. Com aquele jeito que o mundo vai parar se eu também parar de falar.

Não cabe mais em mim todos esses planos. Toda aquela história de "vamos viver felizes para sempre". Porque você sabe, quando amo é pra sempre. E quando choro, são rios e lagos profundos que eu gosto de me afogar cada vez que penso que esses planos não existem mais.

Não cabe mais em mim essa dor. Essa angústia que corrói cada pedacinho do meu pequeno ser. Chega a doer de verdade, já sentiu isso? É uma dor física que me faz querer ficar deitada o dia todo, de pijama e meia furada. A meia que você deixou aqui com aquela camisa brega que você também usava e também estava furada. Quem diria que eu iria sentir saudades desses tantos furos, dessas tuas roupas por aqui, dessa saudade que ficou.

Por falar em saudade, também não cabe mais em mim essa que eu sinto. Vão me perguntar e eu nem sei saudade do quê. Porque o passado é tão recente, parece que foi ontem. Saudade a gente sente daquilo que sabe que não volta mais. Na verdade, de repente nem volte. Mas só de saber que eu quero, pode ser que sim. Pode ser que não. E aí a saudade incomoda, invade, arranca meu coração do peito...não cabe mais aqui dentro.

Não cabe mais em mim tanto amor. Amor desses que a gente sente uma vez só na vida, entende. Amor que é de verdade, que não é piegas, que dispensa clichês mas também possui um montão porque amor é clichê, no final das contas. É pendurar fotos pelo quarto todo, é chamar o amado de apelidos esdrúxulos, é ligar no meio da tarde só para saber se a pessoa corre perigo. Porque viver nessa vida, nada mais é que correr perigo. Amar é correr perigo.

A gente cresce, se apaixona, ama, depois é largado ou larga a pessoa amada. E nem sempre ela volta em 3 dias.
Mas o amor continua. Não cabe mais tanto aqui dentro. Não cabe mais rever e rever nossa história, procurar onde errei, onde foi que desperdiçamos nós dois.

De repente nem tenha essas respostas tão cedo. De repente nem quero tê-las pelo simples fato de gostar de viver com essa questão, essa pontinha de esperança que só quem ama irremediavelmente tem. Porque enquanto eu sentir, não vai caber mais nada aqui. E eu vou seguir achando que só vai caber, quando alguém voltar pra mim e preencher tudo de novo.

Espero que seja você.


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