quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sobre Mudanças

- Sobre mudanças.

Um belo dia uma amiga nos convidou para um almoço. Contou que estava grávida. Logo mais que iria se casar.
Há uns 3 anos meu primo estava indo fazer faculdade nos EUA. Ainda não voltou.
Uma outra tbm zarpou rumo a uma cidade diferente e foi ser feliz em Salvador.
Ainda tenho uma que terminou um namoro de anos porque queria algo a mais. 

Alguns exemplos bobos e nem tão raros assim de como a vida pode mudar. Seja a mudança planejada ou não, todos se adaptaram e encontraram uma nova maneira de ser feliz. Aliás, qual ser que melhor se adapta as travessuras da vida? O ser humano.
É aquela velha história de darwinismo coisa e tal: quem melhor se adapta, vence.

Há alguns meses meus pais falaram que teríamos que nos mudar. Doeu meu coração, fiquei triste e demorei mais ou menos uns 4 meses para me acostumar com a ideia. Sair da zona de conforto, perder amigos, a antiga linha de ônibus, a carrocinha de cachorro-quente da esquina. Fiquei arrasada. 


Conversei muito, li muito, espaireci muito. Também caminhei muito pelo novo bairro. Vi similaridades mas muita, muita diferença. Doeu ainda mais. Como caminhar por aquelas ruas tão movimentas? Como trocar o ônibus pelo (nem sempre confortável) metrô? Como dar adeus a velhos hábitos?

Essa é a pergunta que mais me faço atualmente.

Também espero uma resposta de como isso vira um fato positivo na minha vida. Acho que vou criar mais coragem e responsabilidade. Vou vivenciar novos ambientes e talvez quem saiba, criar novos amigos. Mas o que mais me indago é: até que ponto estamos preparados para mudar?

Tenho 25 anos, sou da geração Y, agir por impulso faz parte de mim. Aquela premissa: "Um passo para frente e você não está mais no mesmo lugar" é muito verdade. Quantos erros e acertos te trouxeram até aqui?

E se eu tivesse escolhido outra faculdade? E se não tivesse terminado em 4 anos?
E se eu não tivesse feito 9 tatuagens? Ainda seria eu?
E se eu não nascesse na família que nasci? Ainda seria a mesma Bianca?
E se eu tivesse sempre morado na Barra? Teria sido sempre feliz?
Tantos "e se..." mas nenhuma resposta.
Oras, nenhuma resposta porque nada disso aconteceu. Porque essa aqui é a Bianca, que morou a vida toda no mesmo apartamento, que preferiu a ESPM do que a PUC, que faz uma nova tatuagem nova a cada ano e acha isso o máximo e que mudança pra ela mesmo, só na cor do cabelo e no esmalte.

Difícil. Uma vez ouvi que "crescer dói mas vale a pena". Ouvi isso com uns 14 anos de idade e não me fazia ideia do que seria a verdade escondida atrás dessa frase. E dói, viu. Tantas escolhas, tanto futuro, tanto medo de dar errado, de ter feito a escolha errada. De estar perdendo seu tempo com uma vida que não é sua.

Mas como saber? Só vivendo...

Vai chegar um momento que vou ter todas essas perguntas. Vou me desprender e pum: falar para todo mundo que mudar é preciso. É quase uma necessidade da gente. Que ser o mesmo sempre é uma chatice.

Não é mesmo? Como é bom ter milhoes de possibilidades e querer viver um pouquinho todas elas. 

Afinal:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..."

E o tempo é esse agora. Isso tudo por causa de uma mudança? Não gente, não é bem assim. Vocês sabem. É só um impulso para uma nova vida, uma nova Bianca, um novo ser humano. E eu até que estou animada para conhecê-los.


Mas ó, tbm não se enganem. Vai chegar o dia que eu não vou mais falar para o taxista: "É ali em Laranjeiras, na General Glicério...". E vai doer rapidinho. Mas depois passa. 
Vocês vão ver que vai passar.



sexta-feira, 11 de abril de 2014

Na sibéria não tem nada disso. Ou: crônica do off-line.

Um belo dia meu celular começou a dar problemas.
O celular que eu tinha comprado nem 2 meses e que eu cuidava feito filho. Porque né, morando no Rio esses últimos tempos, sempre rolava o medo de ser assaltada em qualquer canto: esquina de casa, esperando o ônibus, dentro do ônibus, dentro do taxi e por aí vai. Cenas cotidianas da vida carioca. 

Do celular dar problema até o dia de hoje que escrevo, uma sexta-feira atípica (e logo vocês entenderão o porque), passaram-se 4 longos dias. 
Nesses 4 longos dias eu mesma me ensinei muita coisa e pude voltar em dos tempos muito deliciosos da minha adolescência: a era antes dos smartphones. Quem lembra? Quem esqueceu? Como vivíamos nesses tempos primórdios? Essas e outras curiosidades hoje, no Globo Repórter.

Pois bem.

Tudo começou dentro do metrô voltando da assistência técnica e indo para o trabalho. Um percurso que no meu antigo emprego, durava menos de 10 minutos pois são apenas 2 estações. Minha mão procurava a minha bolsa que procurava o celular. Tirei da bolsa naquele impulso que faço diariamente durante meu trajeto casa-trabalho-trabalho-casa. O que achei foi o meu celular "reserva" da Nokia, com jogo da cobrinha e camera 3.2 pixels. Apertei e nada aconteceu.
Cara de decepção e aguardando os 10 míseros minutos em silêncio profundo comigo mesma. E um pequeno tédio.

No trabalho, costumo colocar o Iphone ao meu lado. Volta e meio, aperto o Menu para poder ver se recebi as mensagens cotidianas: whatsapp, mensagem da mamãe (que tem whats mas prefere sms, respeitemos), email pessoal, etc.
Nada.

A luz acendeu e apagou. Me senti pelada, sem uma extensão de mim. Isso porque estava no trabalho e poderia verificar tudo isso apertando o Google e dando um refresh no Facebook. Mas não é a mesma coisa (vocês sabem!). 

Na volta para casa mais um momento de solidão. Ao invés de sacar os fones de ouvido e ficar imersa em minha música, estava eu, observando os passageiros do pequeno ônibus 580 rumo ao Cosme Velho. Ônibus pequeno, pessoas em pé. Todas em seus smartphones. Teclando, luzes acendendo, jogando Cand Crush (que ano é hoje?) ou contando sua rotina para uma amiga do outro lado da linha.
E eu lá. Pequena nessa multidão conectada, aproveitando para refletir na vida.
Trânsito. Até o próprio motorista não aguenta e saca seu Samsung e coloca uma musiquinha de fundo. 


Parto a pé em direção para casa. O trajeto que costumava fazer de cabeça baixa e trombando em coisas e pessoas pela rua, fiz de cabeça erguida. Ao meu redor, meus antigos parceiros faziam o mesmo que eu há dias atrás: nenhum foco para frente, apenas para baixo. Ergui a cabeça como em um sinal: estou aqui! Eu existo! E segui para meu apartamento com calma e tranquilidade. Tão distraída que pude comer um churrso na barraquinha da esquina da General Glicério, que sempre esteve ali mas se mantém esquecida ora é minha pressa a chegar em casa.

Ainda estou sem meu celular. Volta e meio bate solidão e bate tédio. Mas também me fez compreender o quanto somos uma geração estranha. Saímos para jantar e ficamos no celular conversando com terceiros que não estão no recinto. Rimos dos vídeos que mostramos aos nossos amigos no Youtube: não seria muito melhor contar uma história engraçada, dando aquela invetadinha de leve? Mas ninguém mais tem paciência para escutar, apenas para digitar.

Não tiro o meu da reta. Sou completamente freak em relação a essa era do mobile. Mas me senti triste.

Triste e vazia de compreender que as vezes dou mais valor a esse gadget do que a momentos e pessoas tão especiais. Vou aprendendo que a melhor fotografia é o olhar, que a inveja sempre aparece com nossas mil caras e bocas no Instagram, que não conseguir olhar o email do trabalho deitada na cama é muito bom, que sem o celular no dia-dia consigo adiantar mil coisas que não faria se "deixa eu só responder essa mensagem rapidinho!". 


Ufa. Aprendi tudo o que falei mas cá estou eu, saindo do trabalho e torcendo para que o ônibus em direção a Copa chegue rapidamente para que eu não morra de tédio. Vai entender essa vida moderna.